Política e sociedade etc
Mentindo para Crianças
Neste livro, que nunca será escrito, haverá um capitulo inteiro dedicados à mentiras que os adultos contam às crianças. São várias e freqüentes e, geralmente desnecessárias ou burras. Do meu ponto de vista privilegiado, que me permite sempre estar descansado o suficiente para pensar numa abordagem inteligente, sou testemunha de mentiras dadas por preguiça ou costume, quando a verdade, um pouco mastigada, mas não alterada, seria mais que apropriada.
Poderia citar inúmeros exemplos e situações, mas tenho certeza que a rica experiência do meu leitor o levará aos casos concretos do que falo.
Mas além dos pequenos casos do cotidiano, temos as grandes mentiras, como escolhemos, como sociedade esconder a realidade das crianças. Me dá nojo a reação de parte da mídia e de políticos contra um livro de geografia que ousou dizer o óbvio para meninos da 6a série: o Rio de Janeiro encontra-se loteado pelo tráfico de drogas.
Também são várias as tentativas de coibir aulas de educação sexual na rede pública de ensino, tapando o sol com peneira e ignorando a nossa relativa precocidade sexual. As drogas também são envoltas num véu de mistérios que só aumenta, acredito, o seu consumo e danos do que se dados e informações concretas fossem divulgas, sem preconceitos.
Apesar de admirar muito a frase de John Stuart Mill sobre o erro de achar que todo conservador seja necessariamente estúpido, acredito que eles, os conservadores, com sua insistência em mentir para crianças podem torná-las estúpidas de fato, e conservadoras.
Lewis Hamilton, portugueses que parecem burros e outros que de fato o são: uma pequena fábula darwinística
Dada uma função objetivo, renda, por exemplo, e um conjunto de aptidões inatas dos indivíduos, que contribuam para atingir este objetivo (inteligência, sagacidade, carisma, habilidade motora etc), para que um indivíduo sobre restrições culturais ou sociais possa sobreviver em determinado habitat, ele precisa de potencial inicial maior.
Por exemplo, se vamos num country club, daqueles referidos por Marx¹, os filhos dos sócios serão naturalmente sócios, pouco importando suas habilidades inatas, mas um imigrante de qualquer origem, não será tão naturalmente aceito, precisando de muito mais habilidade e esforço para ser aceito entre os bens nascidos.
Assim, no momento em que retiramos alguém de um grupo que tenha historicamente sofrido restrições (mulheres, negros etc) ao desenvolvimento de seu potencial, e damos a ele toda a capacidade de desenvolver-se, ele, literalmente, passa na frente, como parece ser o caso de Lewis Hamilton, de família vinda de Granada, mas que recebeu treinamento igual aos seus pares na Fórmula 1.
Isto nos ajuda a entender um pouco o conceito de português burro, tão popular no Brasil. Afora, acredito, um uso da lógica que nos parece um pouco obtuso, mas talvez apenas mais preciosista ( – Tem horas ? – Tenho. ), pode haver também uma origem histórica. Quando D. João VI estabeleceu-se no Brasil, um dos requisitos dos mais importantes para fazer parte da corte, era, acredito eu, ser português. Assim, podemos imaginar que brasileiros que chegavam a adentrar os domínios do soberano, tendo passado por maiores dificuldades, fossem, portanto, mais hábeis que os que ali estavam por local nascimento. É óbvio que entre os portugueses haveria de serem encontrados aqueles de grande potencial e inteligência, mas perdidos entre um mar de parvos indivíduos.
Se prevalecem os imbecis, fica difícil encontrar ou mesmo reconhecer algo de interessante. Da mesma forma que, quando lemos os escritos da revista Veja, com o argumentos truculentos de Reinaldo Azevedo ou as leviandades de seus Mainardis, fica difícil prestar atenção em qualquer que seja o ponto de vista defendido pelos conservadores em nosso país, ainda que os argumentos sejam eventualmente válidos:
Jamais quis dizer que os conservadores são geralmente estúpidos. Quis
dizer que as pessoas estúpidas são geralmente conservadoras.John Stuart Mill
1 – I don’t care to belong to a club that accepts people like me as members. Groucho Marx
apideiti: O fim das ditaduras
José Carlos Gomes, co-autor do artigo “Democracia, evolução e teoria do caos” da Revista Ciência Hoje fez os comentários abaixo sobre o post “O fim das ditaduras“, aqui deste blog:
Então não são apenas críticas aos “neo-evolucionistas”, tem também gente que compreende o mais simples, o óbvio ululante: a sociedade humana está mais conectada com os processos naturais do que o iluminismo poderia prever. E nunca antes como agora (para usar a pedagogia lulista) vai ficando tão claro que a democracia é a chave para a sustentabilidade dos sistemas políticos, econômicos… e naturais.
Lembro então Norberto Bobbio: “Numa coisa a direita e a esquerda se unem: o ódio pela democracia.”
Claro, projetos iluminados e autoritários são anaeróbicos, não suportam os arejamento democrático e não resistem à luz do sol. É por isso que mesmo quando contam com amplo apoio popular, insistem em agir à sorrelfa, criar inimigos inexistentes, promover a conspiração, instigar o crime e a violência… e finalmente trair o povo que lhe foi fiel.
Não suportam o debate, não suportam a crítica, não suportam a
transparência, não acreditam na sabedoria do povo, têm horror à
alternância… a alternância é tratada como crime lesa majestade.Mas a alternância é a respiração da democracia. Sem ela, a democracia
sufoca.
Um quase Colombo
Por mais de uma vez já fui negado: Não, ele não se matou. Não pode ser. Mas foi. E os paranóicos estão certos, sua morte foi acobertada para não destruir o herói, para que a sua morte de herege esquecido não tirasse dele toda uma história de feitos:
A certidão de óbito ficou “sumida” por 23 anos. O motivo da morte foi omitido desde a ditadura de Getúlio Vargas, quando criou-se a figura-mito do herói nacional, chegando a ser ignorado pelos livros de história. Achavam que não ficaria bem um herói suicida.
Quando foi encontrada, dava como “causa mortis” um suposto “Colapso Cardíaco”.
O próprio Governador da época, Dr. Pedro de Toledo, determinou: “Não haverá inquérito. Santos Dumont não se suicidou.” Cumpridas as ordens do Governador, somente a 3 de dezembro de 1955 seria registrado o óbito. Fonte:Luciano Camargo Martins
Assim, suicida, doente e esquecido, Dumont preserva as glórias de toda uma vida, mas confirma a Síndrome de Colombo pela nossa recusa em aceitar o seu fim de vida.
Síndrome de Colombo
Mas o que me incomodava era o tom, não sei se escrito, ou se ouvido, o peso que se dava às suas misérias de fim de vida.
Temos um plebeu, de origem duvidosa, que chega a Vice-Rei de Espanha, a grande potência da sua época.
Toda a sua glória esquecida, tudo de bom e incrível que deve ter vivido trocado pela ênfase num momento final infeliz.
Que todo fim seja a celebração de um percurso. Que nunca o luto de um átimo passe por cima de tudo de bom que se tenha produzido nas longas horas. A linha de chegada é por demasiado valorizada.Adolf, Apollo e Aquarius: Quem será o aquecimento global ?
É certo que o impacto no cultivo de alimentos e na produção de energia, além de uma maior necessidade de obras civis e de investimentos de saúde para lidar com os efeitos nefastos do aquecimento global podem ser importantes, mas, é preciso lembrar que sem aquecimento legal, sem Kyoto vigente, há fome no mundo e a malária mata mais de 1 milhão de pessoas todos os anos, apesar de ser uma doença tratável.
Assim como existe o tratamento para a malária, existem no mundo os recursos necessários para transformá-lo radicalmente. E é neste ponto que o aquecimento global pode ter o seu maior impacto. Uma vez que não há visto de entrada para furacões, como não se podem construir muros para barrar as altas temperaturas, ele não pode ser ignorado pelos países desenvolvidos. Assim podemos esperar que uma imensa quantidade de recursos seja direcionada para a questão.
Imagino que primeiro modelo de organização do mundo a ser considerado é o de uma economia de guerra, com o CO2 no papel de um Hitler invisível. Não tivesse mudado um pouco postura, Bush seria o candidato natural a ser colocado atrás das linhas inimigas.
Especulo que assim como as Guerras Mundiais anteriores, está também será uma guerra a ser travada no hemisfério norte (i.e. Países OCDE), tendo lá seus campos de batalha, e relegando aos demais países um papel periférico. Neste cenário, o aquecimento global seria a arma para frear o crescimento de Índia e China e arrasar com o oriente médio, com pesadas restrições ao uso petróleo. O Brasil poderia ser beneficiado por uma substituição do petróleo pelo etanol, neste cenário e tomar o lugar da Arábia Saudita ou, do Iraque, o que não é necessariamente bom, como bem sabem os iraquianos.
No entanto, ainda que a população mundial atinja os níveis de mobilização necessários para suportar as restrições a serem impostas por um corte radical na sua dieta de carbono, talvez este não seja o inimigo correto.
No TED Talks, um dos palestrantes argumenta que tentar simplesmente reduzir os níveis de CO2 da atmosfera é a mesma coisa que um médico dizer a alguém que levou um soco no nariz: “não leve socos no nariz”. Médicos trabalham com prevenção também, mas boa parte da sua prática envolve a eliminação de sintomas e a correção de problemas.
É neste sentido que se propõe, por exemplo, a colocação de painéis no espaço capazes de refletir parte da energia recebida do sol. É também com este espírito que o bilionário inglês Richard Branson está oferecendo um prêmio de US$25 Milhões para quem desenvolver formas alternativas de captura de CO2 da atmosfera.
Aqui estamos diante de um novo projeto Apollo. Se outros indivíduos ou mesmo governos trabalharem neste sentido, poderemos ter um nova corrida espacial. Aqui vejo pouco espaço para mudanças na geopolítica global. Afora benefícios indiretos que o investimento massivo em ciência traz para a população como um todo, os avanços tecnológicos deste tipo de iniciativa terão como objeto direto a manutenção do american way of life, lá pelas bandas deles, funcionando da mesma forma que o projeto Apollo, que servia de vitrine e de justificativa para o desenvolvimento de tecnologias, que, em última instância, seriam usadas nos embates militares e políticos da guerra fria.
Por fim, poderemos ver nascer uma nova era de aquarius, com os povos dos países desenvolvidos enxergando que o seu modelo de desenvolvimento não se sustenta e que a vida na terra só será possível quando todo ser humano for tratado como igual e que as benesses do desenvolvimento chegarem a todos. Mas isto é apenas conversa para cooptar os ecologistas mais ingênuos.
É a mesma coisa, só que diferente
O Estadão malhou. Parece que Miriam Piglet também. Defendem que a conta, no final é toda do Tesouro mesmo, não muda nada. Que, no final, a viúva paga a conta.
Acontece que a separação, permite, entre outras coisas, separar aquilo que, de certa forma, são favas contadas, daquilo em que há espaço para mudança. Se há déficit para o pagamento daqueles que contribuem, há aí erros de gestão que podem e devem ser corrigidos. Se este déficit fica escondido junto com o outro, não sabemos o quão boa gestora é a nossa previdência e nem mesmo se ela melhora ou piora.
Mostrar o outro lado é bom também, permite à sociedade enxergar quanto custa esta política social e assim poder avaliá-la.
Melhores argumentos a favor são feitos pelo Nassif.
A Teia Eleitoral foi uma iniciativa que busca a melhoria pela melhor disponibilidade e clareza de informações. As iniciativas da Transparência Brasil também seguem esta linha.
Uma iniciativa um pouco mais mórbida, mas que espero que dê frutos, é o Rio Body Count. Confira:
A persistência da memória
Blogging on demand
Este é o primeiro texto deste blog que é feito sob encomenda. Gostaria de gastar todo ele falando sobre a beleza de textos feitos sob encomenda. Mas se o fizesse, não atenderia o pedido. Ainda volto ao assunto, talvez, quem sabe, um dia, mas não me despeço sem antes mencionar a beleza de Luiza, de Jobim, feita a pedido da Rede Globo.
Estou no segundo parágrafo e, para desespero de Camilo, o “cliente”, ainda não falei da importância de falar inglês. Mas a questão é clara, é tiro certo sobre qualquer aspecto que se analise:
Não dispondo de uma teoria unificadora ou de uma prosa capaz de juntar diversos aspectos, ou ainda de belos casos ou causos ilustrativos dos meus pontos de vista, troco estilo por clareza e defendo cada ponto separadamente. Leia os que lhe apetecerem. Não existe vida na academia sem inglês – As principais conferências brasileiras, repito brasileiras, pelo menos em TI, aceitam artigos em inglês. Algumas delas só aceitam artigos e apresentações em inglês. Não preciso nem dizer que o material de ponta, seja ele feito nos EUA, Reino Unido ou na China está em inglês. Treine a fala também. No último congresso que fui, aqui no Brasil, as apresentações eram necessariamente em inglês. No entanto, alguns palestrantes eram péssimos. Tenho certeza que só os entendia por eu ser brasileiro e estar acostumado com brasileiros falando inglês. Eu não entendia nada quando eram os mexicanos ou argentinos falando inglês (com exceções, entre representantes de todas as nacionalidades). Tenho certeza que os convidados estrangeiros não entendiam nada também. Mas é um começo. É uma vantagem competitiva – Por enquanto. Se você está no mercado ou na academia, falar a língua do outro, além da obvia ampliação da sua área de atuação, reduz a possibilidade de erros e aumenta a sua produtividade. Já há espaço suficiente, no que quer que você faça, para cometer erros colossais. A língua desconhecida só potencializa.Aprenda, fale, comunique-se e escreva em inglês. Já. Ontem.
Você pode não ser o mais rápido da turma, o mais brilhante, mas se você domina a língua do outro, pode ser a melhor opção. Não sou bom como Lulinha Paz & Amor nestas analogias de boleiros, mas o capitão do time não é o que mais faz gol, mas o que melhor se comunica.
Contatos facilitados – Conto aqui dois casos, facilmente transpostos para outros contextos. Resolvi, meio que do nada, aprender francês. Talvez tenha contado o fato de que cada vez mais gente fala inglês e o meu domínio da língua de Shakespeare já não basta pra garantir meu posto de melhorzinho entre as pessoas. Mas o fato é que, meu pouco conhecimento do francês foi o suficiente para causar uma boa impressão em um professor francês e garantir minha aceitação em um programa de doutorado na França.
Não defendo que o mérito foi exclusivo da minha [pobre] capacidade de jogar conversa fora na língua de Balzac, mas ajudou na transmissão das minhas idéias, e, sobretudo, mostrou minha boa vontade para com sua cultura, país etc e com a intenção de aprender.Noutra ocasião, num congresso, o conferencista convidado ficava muita vezes só, no coffee break, disponível. Fui lá e fiz o contato. Aprendi muito e tenho mais alguém a quem consultar.
Rapport – Agora repito o tópico anterior para os adeptos da programação neurolingüística. Nela, é importante transmitir a mensagem no meio preferido pelo freguês, seja ele visual, cinestésico etc. É crença minha que para falantes de outras línguas, isto passa pelo uso da língua do outro.
O inglês não é mais a língua dos americanos – e nem a língua dos súditos da Rainha. Lingüistas já detectam influências no inglês vinda de falantes de outros países, que a utilizam, muitas vezes, como interface entre dois outros idiomas. É por ela que converso com um amigo alemão.Se é bom para a Alemanha… – E falando em Alemanha, ainda que Caetano advogue que só é possível filosofar em Alemão, diversas universidades alemãs já oferecem cursos superiores parcialmente ou mesmo integralmente em inglês. Isto faz parte de um esforço do governo para atrair alunos estrangeiros. Para muitos destes cursos há disponibilidade de bolsa. Para os interessados, o governo financia cursos de alemão, mas o inglês é mais uma porta de entrada.
Serviços em inglês no Brasil – Como Camilo já demonstrou lá na sua esfera, há espaço para a prestação de serviços para o exterior, e não falamos, nem ele, nem eu, da indústria do turismo. Confiram os argumentos dele.
É bom para você – Sei que “É bom para você” é o supra-sumo da auto-ajuda, que fique claro que o que digo vale no contexto da minha experiência. Se 10% servir para você, estou no lucro. Mas acompanhando meu próprio aprendizado, acho que aprender outra língua é o Biotônico Fontoura, ou Viagra, para ser mais moderno, do cérebro: fortalece o raciocínio, expande horizontes, culturais ou de soluções. Aprender uma nova língua é necessariamente ver que As Coisas® podem ser diferentes. As diversas formas de aprendizado usualmente incluem contato com elementos da outra cultura. Por fim, acredito também que o próprio domínio do português seja beneficiado. Ver como são as estruturas e estratégias de outra língua facilita o reconhecimento das belas estruturas e estratégias do nosso bom, e nem tão velho, português.