Lewis Hamilton, portugueses que parecem burros e outros que de fato o são: uma pequena fábula darwinística

Quando duas populações distintas convivem mas não possuem grande troca e uma delas está sujeita a alguma restrição de ordem cultural ou social, os melhores potenciais serão encontrados na população sob o efeito da restrição.


Dada uma função objetivo, renda, por exemplo, e um conjunto de aptidões inatas dos indivíduos, que contribuam para atingir este objetivo (inteligência, sagacidade, carisma, habilidade motora etc), para que um indivíduo sobre restrições culturais ou sociais possa sobreviver em determinado habitat, ele precisa de potencial inicial maior.


Por exemplo, se vamos num country club, daqueles referidos por Marx¹, os filhos dos sócios serão naturalmente sócios, pouco importando suas habilidades inatas, mas um imigrante de qualquer origem, não será tão naturalmente aceito, precisando de muito mais habilidade e esforço para ser aceito entre os bens nascidos.


Assim, no momento em que retiramos alguém de um grupo que tenha historicamente sofrido restrições (mulheres, negros etc) ao desenvolvimento de seu potencial, e damos a ele toda a capacidade de desenvolver-se, ele, literalmente, passa na frente, como parece ser o caso de Lewis Hamilton, de família vinda de Granada, mas que recebeu treinamento igual aos seus pares na Fórmula 1.

Isto nos ajuda a entender um pouco o conceito de português burro, tão popular no Brasil. Afora, acredito, um uso da lógica que nos parece um pouco obtuso, mas talvez apenas mais preciosista ( – Tem horas ? – Tenho. ), pode haver também uma origem histórica. Quando D. João VI estabeleceu-se no Brasil, um dos requisitos dos mais importantes para fazer parte da corte, era, acredito eu, ser português. Assim, podemos imaginar que brasileiros que chegavam a adentrar os domínios do soberano, tendo passado por maiores dificuldades, fossem, portanto, mais hábeis que os que ali estavam por local nascimento. É óbvio que entre os portugueses haveria de serem encontrados aqueles de grande potencial e inteligência, mas perdidos entre um mar de parvos indivíduos.


Se prevalecem os imbecis, fica difícil encontrar ou mesmo reconhecer algo de interessante. Da mesma forma que, quando lemos os escritos da revista Veja, com o argumentos truculentos de Reinaldo Azevedo ou as leviandades de seus Mainardis, fica difícil prestar atenção em qualquer que seja o ponto de vista defendido pelos conservadores em nosso país, ainda que os argumentos sejam eventualmente válidos:

Jamais quis dizer que os conservadores são geralmente estúpidos. Quis
dizer que as pessoas estúpidas são geralmente conservadoras.

John Stuart Mill

1 – I don’t care to belong to a club that accepts people like me as members. Groucho Marx

Posted by Roberto de Pinho

2 comments

Demorou mas fez logo um “tudo em um”, hein? Apesar de saber que os aspectos têm relação, comentarei em separado (talvez por me sentir incapaz de amarrar num mesmo texto Formula1 com Marx, mais Coroa Portuguesa, Darwin e Mainardi).

Lewis Hamilton é negro? Pra mim, NEGRO é Milton Nascimento, Ben Johnson, o cara do Black Eyed Peas! Esse cara é moreninho e olhe lá… mas OK, ele deve ter passado por suas experiências discriminatórias que eu não passei.

Sem querer contestar, apenas complementar, ele é fruto de muito trabalho, esforço e TECNOLOGIA. A McLaren desenvolveu um simulador de pistas que atualmente é uma das maiores armas de preparação de pilotos. Reproduz praticamente as condições reais da pista. Enquanto os outros piotos têm alguns momentos de reconhecimento e treino, ele, querendo, pode pilotar mil horas na pista em questão. E, sabemos, “practice makes perfect”.

Outra coisa que acho, agora lembrando Cocteau, já citado mais de uma vez neste aconchegante blog, é que ninguém disse a ele que era impossível. Então, não sabendo disso, o Hamilton “foi lá e fez”.

Outra característica nata dos brasileiros (e que também os de grupos minoritários têm pela experiência) é a flexibilidade, jogo de cintura. A mesma “manha” que o brasileiro usa pra driblar as regras ou a Lei, também pode ser usada pra a Gestão e solução prática de problemas.

Em relação aos colunistas, acredito que são úteis justamente ao levantar esta reflexão. Qual o objetivo deles? Aparecer? Provocar polêmica? Será que eles realmente acreditam 100% no que falam ou apenas se divertem lançando opiniões que parecem rudes, provocativas e até jocosas?

Sim, Hamilton teve todo o treinamento, porém vindo de uma população sob restrição. A superação pode estar na geração anterior.

Quanto aos colunista, acho que tem muita puta que atende ao gosto do freguês. Basta olhar o que escrevem ou escreveram em outros lugares.

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