Roberto de Pinho

Carta a um jovem bacharel em direito

Depois que FHC remexeu a memória de Rilke e lançou Cartas A Um Jovem Politico, me animei a escrever o texto abaixo para um primo que está graduando-se hoje.

Carta a um jovem bacharel em Direito

Não gosto da sua profissão.

Mas este é um desgosto com raízes no apreço. Explico. Quando se espera muito de alguém ou de algo, quando você vê todo o potencial de uma pessoa, mas ela não a realiza, dái surge o meu desgoto.

A justiça é o alicerce de uma sociedade. À justiça cabe a responsabilidade de manter o tecido social, de garantir a hamornia entre as relações humanas, de acolher os fracos e nos libertar das leis da selva.

Não é isto que vemos, não é isto que sentimos, no Brasil. Não me protege das injustiças, não pune os poderosos, aliena a maioria, sempre preocupada com seus interesses mesquinhos ou princípios utópicos.

O advogado, talvez mais do que qualquer outra pofissão, deve estar ao lado do povo, nunca acima. Tenho, eu, a desculpa de viver no nível das informações e dos computadores. Têm, os médicos, a desculpa de buscar um necessário distânciamento para com o paciente. A matéria do direito é a vida do povo e suas ferramentas a língua e a lógica.

Mas, o que se vê ?

Seres olímpicos, intocáveis.

Quando quero me defender sozinho em um tribunal, não posso. Não sou considerado capaz de responder por mim, sou forçado à tutela de um advogado.

Quando escrevo esta carta, tenho medo de ferir os brios de algum “Doutor” e sofrer processo. Não há nada melhor a fazer do processar o porteiro que não chamou o juíz de “Doutor” ?

Quando a sociedade quer impor revista a bandidos com carteira da OAB na visita em presídio, qual a resposta: indignação e atentado ao Estado de Direito. Não é assim que se constroi uma profissão. Vocês têm as ferramentas e o dever de melhorar a nossa sociedade, não podem se manchar em nome de princípios aplicáveis ao mundo das idéias e o que é pior, na defesa de alguns delinqüentes. Jogue estes delingüêntes no lixo e sigam em frente.

Não gosto da sua profissão. Mas acredito muito nela e acredito que você possa fazer diferença. Como disse Gandhi :

“Seja a mudança que você quer ver no mundo”

PS. Para uma longa discussão sobre o uso do tramento de Doutor para bachereis em direito, veja este tópico no blog do Doutor em Direito do Estado Prof. Túlio Lima Vianna : Advogado é Doutor ?

Posted by Roberto de Pinho in Política e sociedade etc, Verso e Prosa, 0 comments

Discurso de Formatura

Estas semanas ando envolvido com a produção de textos ( além deste blog ). Lembrei que o meu discurso de formatura da graduação não estava mais online. Deve ser o meu texto de maior repercussão. Enquanto ele esteve online, a cada fim de semestre, eu recebia um ou dois emails pedindo ajuda na escrita de discursos de formatura.

Coloco ele aqui para que desfrute das rotinas de backup do Blogger.

Veja também: Discurso Mestrado

Discurso de Formatura – Graduação Análise de Sistemas – UNIFACS – 1995

Boa noite, Vou fazer uma pergunta, uma pergunta que poderia até ser considerada pouco apropriada para a ocasião. Na verdade, espero que não me arrependa em faze-la :

Por que estamos aqui, esta noite ?

Por que as senhoras estão usando, em sua maioria, sapatos de saltos altos, belos, porém desconfortáveis. E boa parte dos senhores, gravatas que apertam o pescoço de todos. Por que eu, e meus colegas, antes de faculdade e agora de profissão, vestimos estas roupas complicadas,
embora muitos de nós preferíssemos estar usando confortáveis bermudas, por quê ?

Mais ainda, por que minhas colegas, delicadamente discutiram, sem nenhuma exaltação, qual a cor da roupa que usariam neste evento ?

Por que enfrentamos um bom engarrafamento na hora da chegada ?

Todos estes sacrifícios para quê ?

Para a graduação de profissionais que não foram responsáveis por alimentar a raça humana ? Nós, analistas de sistemas, não alimentamos os nossos semelhantes, durante secas, invernos rigorosos ou mesmo guerras. Nós não descobrimos como plantar alimentos ou tratar animais, ou curar suas doenças, como fazem os agrônomos ou os veterinários. Sempre preocupados em como fornecer alimentos para uma população mundial cada vez maior. Nós também não construímos casas, pontes ou estradas. O produto do nosso trabalho não é algo palpável como o produto do trabalho de engenheiros e arquitetos. Não construímos casas que nos protegem do
tempo e de nós mesmos. Não construímos as casas que moldaram a nossa sociedade e a forma como nos relacionamos. A sociedade feudal não seria a mesma sem os castelos, assim como a nossa sociedade e nossas famílias não seriam as mesmas sem as nossas casas. Não construímos pontes que unem, ou separam povos. Pontes que juntaram cidades como em Buda e Peste
e separaram famílias quando destruídas. Não fizemos as estradas que moldaram impérios e economias. O império romano expandiu-se com estradas. Com elas, os romanos podiam movimentar exércitos e produtos, podendo, assim controlar desde a península ibérica até o Egito. Não salvamos vidas, não combatemos doenças. Não estivemos presentes quando o
homem luto contra pestes ou desenvolveu técnicas de cirurgia, que permitem, até, que sejamos mais bonitos. Não temos a satisfação dos obstetras de trazer novas vidas a este mundo ou de fazer bater um coração de alguém já falecido no peito de outra pessoa. Até criamos vírus. Talvez numa tentativa de também criar algo vivo.

Por outro lado, se não estivemos em quase todas as situações críticas da história da humanidade, não consigo imaginar muitos exemplos de eventos que não contarão com a nossa participação ou ajuda daqui para diante. É difícil imaginar o trabalho de qualquer um destes
profissionais, no mundo atual, sem a ajuda de computadores. E o nosso trabalho é justamente fazer com que pessoas e computadores trabalhem juntos, fazer com que estes tornem possíveis os objetivos daqueles. Se não produzimos alimentos, a informática já está em boa parte das
fazendas. Se não construímos casas, pontes e estradas, também moldamos a sociedade. Hoje, a Internet está trazendo o mundo para as nossas casas, destruindo paredes e ligando pessoas a distâncias que um engenheiro certamente se recusaria a construir uma ponte. Se o império romano foi construído graças ao seu domínio sobre os meios de transporte e as
estradas. Hoje, as superpotências são construídas com capacidade de movimentar informações, a matéria-prima do nosso trabalho. O mundo pós guerra fria, com certeza será conhecido como era da informação e nós seremos os seus engenheiros. Não salvamos vidas, mas trabalhamos em
conjunto com médicos, seja coletando dados estatísticos, seja, através do uso de inteligência artificial, criando sistemas especialistas capazes de substituir, em alguns casos, médicos reais. Bem, e os vírus que nós criamos, não matam ninguém.

Mas se hoje todos sabem e usam computadores, por que precisamos de analistas de sistemas ?

Se computadores são tão simples de usar, por que passar quatro anos em uma faculdade ?

Por que estudar matérias como Pesquisa Operacional, Contabilidade ou computador e sociedade, entre outras ?

Por que deixar de divertir-se e ter que fazer centenas trabalhos em grupo ? Muitas vezes perdendo todo o fim-de-semana ?

Por que todos nós fizemos estágio, mesmo que nosso currículo não exija ?

Por que buscamos e recebemos, por tantas vezes, o apoio de nossos pais ?

Por que nós reunirmos tantas vezes ? Foram tantas a reuniões que até inauguração de sofá, nós fizemos. Por que estudamos assuntos tão díspares como realidade virtual e redes de computadores, passando até por qualidade total. Por que estudamos tudo isto se qualquer um pode usar um computador ? Por que saímos de nossas salas, limpas e ar condicionadas e fomos a instituições de caridade, extremamente carentes, oferecer nossos serviços, gratuitamente ?

Fizemos tudo isto, por que qualquer um pode receitar uma aspirina, mas eu não faria uma operação de apendicite com a minha vizinha, por exemplo. Qualquer um pode armar uma barraca de camping, mas com certeza, Itaipu não foi feita por qualquer um. Qualquer um pode ir a um tribunal de pequenas causas para questões que envolvem até 10 salários mínimos,
mas em qualquer causa acima deste valor ou que não seja estritamente financeira, com certeza, será necessária a ajuda de um advogado. Qualquer um pode editar um texto, instalar uma planilha ou desenvolver um programa, mas com certeza, não será qualquer um que pode desenvolver sistemas de informações, projetar redes de computadores, se preocupar com o impacto da informática numa organização ou na sociedade, administrar bancos de dados corporativos ou muitas outras funções que um bacharel em ciência da computação sabe execer. Se hoje qualquer um pode usar um computador é por que muito trabalho foi feito em informática, é porque existe gente pesquisando e trabalhando com computadores.

É estratégico para o nosso país, manter-se na liderança desta tecnológia. Liderança que só é possível com estudo e pesquisa de qualidade.

Não, não estou em nada arrependido de ter perguntado porque estamos aqui hoje, e muito menos estaria arrependido de ter feito o curso que fiz. Sinto-me, agora, como Colombo partindo do porto de Palos, triste por deixar a sua terra, mas pronto para construir um novo mundo. Pelo menos, sempre poderei ver a todos na internet.

Posted by Roberto de Pinho in Favoritos, Política e sociedade etc, Sucesso de Público, Verso e Prosa, 0 comments

Perfume

Está sendo feito um filme sobre o livro “Perfume” de Patrick Süskind. Vi apenas o trailer mas não gostei. Missão impossível para o diretor. este livro me marcou muito. Lembro que vendeu bastante, mas não sei se o sentimento quanto a ele é tão entusiasmado quanto o meu. Fez para mim o que “O Estrangeiro” deve ter feito a muita gente.
A escolha da cena do trailer me incomodou muito também. Esta é uma cena em que mostrar é destruir o encanto do livro. Não há atriz neste mundo capaz de representar esta não-personagem do livro. Ela é como vc a quiser, a perfeição, a imagem de todo o desejo que vc já teve. a junção de tudo que já lhe atraiu em qualquer mulher, congelado no momento em que vc lê o livro. Talvez numa cena mais enevoada, porém com cores fortes…
Posted by Roberto de Pinho in Cinema, Verso e Prosa, 0 comments

Leis: Faça você mesmo

Na infância, quando passava tardes lendo enciclopédia, certamente eu não imaginei que um dia elas seriam escritas coletivamente. A Wikipédia é um sucesso. E mostra-se como uma ferramenta de busca de consenso. No entanto, há problemas : Para o conhecimento enciclopédico, nem sempre Vox Populi, Vox Dei, pois o senso comum pode estar errado, valendo a opinião do especilista. Outro problema, é a vulnerabilidade dos artigos ao mau uso. Bill Thompson comenta isto neste artigo na BBC.

No entanto, para a construção de leis, Vox Populi, Vox Dei, pelo menos para a Câmara dos Deputados. Ou deveria ser. Assim, motivado pelo comentário de um amigo, de que deveria haver um local para que as pessoas pudessem aprender sobre o nosso sistema político, resolvi falar sobre uma idéia que tem passeado em minha mente: Uma wiki-câmara.

Para leis, o esquema da wikipédia, com suas adaptações, pode vir a ser perfeito: não importa a opinião deste ou daquele especialista, o que vale é a vontade da maioria. O senado tem outra lógica e mantenho ele fora desta discussão.

Imagino uma evolução do Wiki onde haja votação dos artigos propostos e suas revisões ( leis e emendas, no vocabulário da câmara). Neste vasto mundo, talvez alguém já esteja trabalhando nisto. Na minha visão, no momento em um artigo atinja certo suporte e estabilidade, seria levado a uma votação, on-line e universal.

Problemas, eu vejo vários, mas pelo que lembro, existiu uma Internet Encyclopedia em meados dos anos 1990. A comunidade, a tecnologia ou o modelo de negócios aindas não estavam maduros e ela sumiu. No entanto, com a evolução do meio, a Wikipedia estabeleceu-se.

Peculiaridades, como a necessidade de integar leis no sistema jurídico, a revisão do orçamento, e outros , certamente merecem atenção. Mas não se pode dizer também que a atuação da Comissão de Constituição Justiça seja um exemplo de perfeição, pra ficar em um ponto.

Espero ainda ver isto acontecer.


Posted by Roberto de Pinho in Política e sociedade etc, 0 comments

O deputado sem caráter.


Alguém certamente achará um loop hole na minha argumentação, mas vale a tentativa. O melhor deputado ( Aurélio: 1.Indivíduo comissionado para tratar de negócios de outrem. ) possível não pode ter nenhum caráter. explico: suponhamos que um deputado seja, por motivo de crença, terminantemente contra a pena de morte. Acontece que seus eleitores são em sua maioria absoluta a favor. O bom deputado deve votar a favor, deve não ter respeito algum pelos seus princípios. Não concordo com a pena de morte, mas isto não vem ao caso. O importante aqui é : somos crianças a serem tuteladas por alguns que sejam mais expertos /espertos ou o que vale é a nossa voz ?

Mas observem o que eu disse algumas linhas acima : “O bom deputado … deve não ter respeito algum pelos seus princípios.”

Isto também não é uma definição apropriada para o bom criminoso ?

Vejam: Movimento Contra o Voto Secreto no Congresso Nacional

Posted by Roberto de Pinho in Política e sociedade etc, 0 comments

No dia seguinte ninguém morreu.


Assim começa o livro “As intermitências da morte”, de Saramago. Será minha próxima leitura não técnica. Espero que me fale sobre a morte do outro. do próximo e do não tão próximo. É isto que quero. e certamente é isto que Saramago fará.

Compre: Aqui

Posted by Roberto de Pinho, 1 comment

indexed

Minha pesquisa no doutorado está em algum lugar em torno da visualização de conceitos. Por enquanto, nada melhor do que o ser humano para fazer isto de maneira surpreendente. e bonita.

Veja o que fazem neste blog: indexed

Posted by Roberto de Pinho, 0 comments

As Coisas

A necessidade de escrever já foi bem defendida por Rilke. Mas não lembro da sua defesa da necessidade de publicar. Publicar é tornar tangível e isto me motiva. Que esta publicação não leve a papel e tinta é menos importante. Quando algo só existe quando está no Google, este Blogger me serve. Outra motivação para este espaço é fugir da publicação científica do dia-a-dia. Aqui, falo e não provo, digo e não cite{alguém}.
Posted by Roberto de Pinho in Verso e Prosa, 0 comments