Roberto de Pinho

Amtrak

O trilho segue. Não há escolha. Pelo menos não na direção. Ficar ou seguir, é o que há. Eventualmente, uma decisão, em nosso nome tomada, e, raramente, umas poucas sob nosso controle, mas quando pouco sabemos do destino.

Posted by Roberto de Pinho in AsCoisas, AVida, Verso e Prosa, 0 comments

ctrl-alt-del

An American Prayer, Jim Morrison
Posted by Roberto de Pinho in AVida, Verso e Prosa, 1 comment

Business

A porta estava do outro lado da mesa. Ou melhor, a cadeira vazia estava no outro lado da sala. Sempre era assim. Sonhava em apenas aparecer e começar a falar. Podia chegar cedo e instalar-me no meu bunker. Não funcionaria.

Agora seguia. os olhos flutuando em algum lugar acima do seu corpo, apreciava o teatro. Alguns buscavam respostas. Outros, atores, imaginavam quando sairiam de cena. Alguns ensaiavam reprovação, qualquer que fosse o cenário.

Para cada face uma resposta, para cada ataque um movimento, para cada querer, uma esperança.

Agora, estavam todos ali. Imaginando o suspense. Apostando no tempo que levaria para a revelação, Disse bom-dia e notei, ao fundo da sala, uma gota de suor que atirando-se parecia me dizer: eu sabia, é o fim.

O irônico é que eu tinha uma resposta. Uma resposta arduamente computada. Uma resposta lógica, fria, imparcial, inquestionável, definitiva.

Mas agora não, ela já não existe. Todo rigor da lógica destruido nestes poucos passos, neste entrar no palco. Eis que só nos resta abrir a cortina, acender as luzes, retirar a maquiagem e devolver os ingressos.
Posted by Roberto de Pinho in AsCoisas, Verso e Prosa, 0 comments

Perfect

Posted by Roberto de Pinho in AVida, 0 comments

Retorno

Pátria Minha

Vinicius de Moraes


A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos…
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu…

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda…
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha… A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
“Liberta que serás também”
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão…
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
“Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes.”


Texto extraído do livro “Vinicius de Moraes – Poesia Completa e Prosa”, Editora Nova Aguilar – Rio de Janeiro, 1998, pág. 383.

Posted by Roberto de Pinho in AVida, Verso e Prosa, 2 comments

Caymmi

Posted by Roberto de Pinho, 0 comments

How do you measure a year ?


Quintana ensina que a beleza da folhinha

é o arrancar da folha, belo exemplo

concreto da possibilidade do recomeço,

do refazer.


Sidarta ensina que o recomeçar

é difícil, mas possível, que a dor

mascara-se em realidade e

hábitos nos abraçam num

desespero de sobrevivência.


A idade nos ensina que mudamos,

inconstantes núvens probabilísticas que

ousam desafiar as possibilidades.

Aprende, e ensina-me.

Posted by Roberto de Pinho in AsCoisas, Verso e Prosa, 1 comment

As Coisas: Amoeba

The movie will begin in five moments
The mindless voice announced.
Everything unknown and yet possible.

Every breath, a surprise.
Every step, a test.
Every idea, expanding.

Every new dog, Oooooh, a dog, a doggie, another dog, yet another fucking dog.

Every talking computer, every fucking fake robot, every Santa Claus whispers: There are less things in heaven and earth, Horatio,
Than are dreamt of in your philosophy.
Every challenge, why ? every task, how ? every question, which answer?

Every sea, charted,
Every road, traveled,
Every day, planned,
I move: vini vidi vinci

Everything known and yet possible.
Of everything that stands, the end
Oooooh, impossible concentration.

some deliria over Doors’ songs: 1,2
Posted by Roberto de Pinho in AsCoisas, Verso e Prosa, 0 comments

As Coisas: Cars

Posted by Roberto de Pinho in AsCoisas, 0 comments