Verso e Prosa

How do you measure a year ?


Quintana ensina que a beleza da folhinha

é o arrancar da folha, belo exemplo

concreto da possibilidade do recomeço,

do refazer.


Sidarta ensina que o recomeçar

é difícil, mas possível, que a dor

mascara-se em realidade e

hábitos nos abraçam num

desespero de sobrevivência.


A idade nos ensina que mudamos,

inconstantes núvens probabilísticas que

ousam desafiar as possibilidades.

Aprende, e ensina-me.

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As Coisas: Amoeba

The movie will begin in five moments
The mindless voice announced.
Everything unknown and yet possible.

Every breath, a surprise.
Every step, a test.
Every idea, expanding.

Every new dog, Oooooh, a dog, a doggie, another dog, yet another fucking dog.

Every talking computer, every fucking fake robot, every Santa Claus whispers: There are less things in heaven and earth, Horatio,
Than are dreamt of in your philosophy.
Every challenge, why ? every task, how ? every question, which answer?

Every sea, charted,
Every road, traveled,
Every day, planned,
I move: vini vidi vinci

Everything known and yet possible.
Of everything that stands, the end
Oooooh, impossible concentration.

some deliria over Doors’ songs: 1,2
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As Coisas: Paulo Francis comprava mais de uma vez o mesmo livro

O sentimento era conhecido: acordava com a necessidade de um certo livro. Possuía-o. Cada folha no passado consumida. Em si, a marca da dor da leitura multiplicando suas sinapses, sombras de alegrias e tristezas, um ou outro conhecimento que lhe fora útil vida afora.

Mas agora precisava do livro. Reforço tangível daquilo que um dia vivenciara.

Devidamente abandonado entre “crônica de uma morte anunciada” e a Utopia, de Morus. Não estava lá.

E a mente corre pela imagem perdida, pela sua vida desde o nosso último encontro. Como estaria. Como aquele canto dobrado, aquele sinal que deixamos para nós [mesmos] teria se atenuado. Se a frase sublinhada a unha, por falta de caneta ou coragem ainda seria detectada.

Me perco nas horas hipotéticas que perderia a buscar uma frase [marcada] que já não estaria lá. Chego na frase. Tem algo de incompleto, uma vírgula que não está onde deveria, uma mordida de traça no que era o mais perfeito final de frase.

Desisto da busca. Apenas uns dois outros lugares onde mais poderia estar. Não olho meu registro de livros emprestados. Melhor começar de novo. Me deixar encantar de novo. Iludir-me com a possibilidade de encontro original. Abraçar a possibilidade daquilo que é inédito e, ainda assim, exatamente como fora antes.

Parto para a livraria, a me deixar chamar por todas as [outras] sereias encadernadas que cantam: onde estivera ?

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Mensagem para turma de Engenharia

Ana Paula, Batoré, Bello, Boza, Bruno, Carioca, Cássia, Diego, Gago, Gustavo, Helder, Kelly, Lívia das Tattoos, Mara, Marcela, Marcos Gabriel, Mr. Kool, Paulo José, Pavan, Porkinho, Rodriguinho, e Zilza:

Vocês são barulhentos, pertubados, irriquietos mas…

Brilhantes,

amigos, unidos, determinados e felizes !

Não deixem nunca que tentem lhes convencer de que alegria e trabalho não combinam. Você sabem e provam que isto não é verdade.

Neste período longe das aulas, vou guardar com carinho a lembrança da amizade desta turma e a de cada um de vocês.

Tio Pinho

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They are here to save our lives.


“As Harold took a bite of Bavarian sugar cookie, he finally felt as if everything was going to be ok. Sometimes, when we lose ourselves in fear and despair, in routine and constancy, in hopelessness and tragedy, we can thank God for Bavarian sugar cookies. And, fortunately, when there aren’t any cookies, we can still find reassurance in a familiar hand on our skin, or a kind and loving gesture, or subtle encouragement, or a loving embrace, or an offer of comfort, not to mention hospital gurneys and nose plugs, an uneaten Danish, soft-spoken secrets, and Fender Stratocasters, and maybe the occasional piece of fiction. And we must remember that all these things, the nuances, the anomalies, the subtleties, which we assume only accessorize our days, are effective for a much larger and nobler cause. They are here to save our lives. I know the idea seems strange, but I also know that it just so happens to be true. And, so it was, a wristwatch saved Harold Crick.”

-Kay Eiffel, ‘Stranger Than Fiction’
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A probabilidade de envelhecer

Já estava ruminando um post sobre este assunto há alguns meses, mas a indicação de um livro por Camilo me forneceu o ferramental para entender aquilo que eu estava intuindo.
Tendo visto a argumentação do Taleb, já não consigo articular os pensamentos razoavelmente poéticos que estavam passeando pela minha cabeça. Sempre que me aproximo de um deles, sou capturado pelos raciocínios elegantes do livro “Fooled by Randomness”.

Minha intuição era que, ao longo da nossa vida, vamos construindo conceitos, regras e soluções. No início, tudo é novo, as regras são poucas, os exemplos idem e é sempre mais fácil alterar a nossa postura. À medida que o tempo passa, algumas idéias vão sendo reforçadas e ainda que contra-exemplos nos sejam apresentados, toda a nossa experiência prévia mantém a nossa convicção de que estamos certos.

Um exemplo uni-dimensional disto é a manutenção de uma média histórica. Se, desde o meu nascimento, eu registrasse o número de pessoas com óculos de grau que encontrasse na rua, é possível, a depender da minha idade que a minha média não sofresse grande perturbação depois do advento das lentes de contato e das cirurgias a laser [para correção de miopia].

Neste exemplo, propositadamente simples, fica claro que alguém mais novo leva vantagem. Ainda que sua experiência seja menor, todo o conhecimento acumulado, é, no contexto corrente, apenas fonte de erro, erro este potencialmente maior que o eventual erro [oriundo] da inexperiência.

Com a convicção de que a nossa observação do mundo tem como propósito último a nossa sobrevivência, observo que nosso apego por regras é especialmente pronunciado quando estamos evitando perigo ou mesmo algum desconforto. Se sempre que eu fui procurar comida perto de cavernas do lado do lago, uma família de leões estava lá, após algumas visitas, vou batizar as cavernas perto do lado de lugar amaldiçoado e nunca mais volto lá. De nada adianta saber que os leões foram mortos ou se mudaram. O lugar é maldito.

Num contexto ligeiramente mais moderno, todas as vezes no passado que tomei chuva me lembram de sair de casa com o guarda-chuvas. O desconforto da chuva e do frio exagerando a nossa percepção da probabilidade de chover[um argumento interessante apresentado por Taleb, que me ajuda neste exemplo, é a existência de estudos que mostram que experiências negativas tem maior impacto sobre o nosso humor e tendem a ser retidas por mais tempo na nossa memória que experiências positivas].

Enfim, envelhecer é abraçar velhas percepções, regras e probabilidades. Achar que aquilo que me serviu tão bem ajudará a todos que virão. Envelhecer é escrever um livro de auto-ajuda e esperar que ele funcione.

Mas Taleb vai além, mostrando que boa parte das nossas verdades e regras funcionaram por puro acaso ou foram construídas, a posteriori, em nome de uma busca inata pela razão e motivos, mesmo quando estes não existem ou não são aparentes. Dado um evento que nos é favorável, vamos buscar eventos que expliquem este resultado. O livro é, obviamente, muito mais que isto e uma excelente leitura.

In the end, this is a random and unscripted world, one which the book of rules was not even lost, it was simply never written.

PS. the last line is not from the book, but one I have written originally in another context.
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geek joke

Em 2050, cientistas chegaram a conclusão que todos os seres humanos morreriam, mas que havia solução. Mas achar a solução correta era um problema NP completo. Mesmo com todos os computadores do mundo, o calculo levaria centenas de anos.

um cientista propôs: vamos adotar a solução dos gêmeos de Einstein. – como assim ? a idéia de que existem dois gêmeos, um fica na terra e outro passeia pelo sistema solar em velocidade próxima à da luz, o que ficou na terra estará bem mais velho. Podemos fazer isto com o computador.

– mas isto não resolve o nosso problema, de nada adianta colocar um computador para passear pelo sistema solar !

– vc não está entendendo…. colocamos todos os humanos numa nave e rodamos pelo sistema solar, deixando o computador na terra. Poucos meses depois voltamos e, como se passam centenas de anos na terra, o computador já terá a resposta.

por mais absurda que parecesse a proposta, assim foi feito. O mais potente computador foi montado e programa, e a nave construída.

A nave saiu e rodou pelo sistema solar. No seu retorno, pouco tempo faltando para salvar a humanidade, os cientistas chefes foram ansiosos examinar o resultado da computação. No primitivo console controlador estava o esperado resultado:

“err 456: unable to load job”

versão original lida num login do linux ( fortune program ).

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Pale Blue Dot

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Erros e acertos


Na recuperação de informação, duas medidas são as mais usuais para a avaliação da efetividade de ferramentas de busca: recall e precision.

O recall mede o percentual de objetos relevantes que foram recuperados por uma busca. A precisão, por sua vez, mede o percentual de elementos relevantes entre aqueles recuperados.

Num extremo, podemos ter um conjunto de apenas um elemento relevante: precisão 100 %, porem recall muito baixo. A medida que adicionamos novos elementos, o recall vai crescendo, mas, a depender da qualidade da ferramenta, às custas de menor precisão. No outro extremo, podemos ter um conjunto solução que é igual ao universo pesquisado. Neste caso, temos a certeza de recall 100%, mas com precisão mínima.

A qualidade do algoritmo faz diferença, não existindo algoritmo perfeito. No entanto, há consenso de que, a depender da aplicação, é razoável sacrificar precisão em favor de recall. Por exemplo, se buscamos descobrir todos os fabricantes de computadores americanos, é aceitável que uma pesquisa retorne alguns elementos não relevantes.

Tendo eu martelo, faço do programa Fome Zero prego e o analiso sob a ótica da recuperação de informação.

Partindo da existência de uma população a ser contemplada pelo programa, o programa deve buscar 100% de recall, i.e., atender a todos que atendam o critério do programa, e, ao mesmo tempo com alta precisão, não permitindo que aqueles que não fazem jus ao beneficio sejam inscritos no programa.

O importante nesta analogia é que a desenfreada busca de precisão pode ocorrer às custas de uma perda de recall. Quando uma reportagem de TV mostra a irmã do prefeito de não sei onde recebendo o beneficio do programa, o foco é exclusivo na precisão e o clamor é por maior controle.

Não ataco o controle, mas apenas um cego “maior” controle. Regras e mais regras certamente tem um impacto no recall, impedindo que muitos dos destinatários legítimos sejam atendidos.

A busca é, portanto de um melhor controle, e neste contexto – do programa Fome Zero – é importante se perguntar: o que é mais critico: pagar a quem não se deve ou deixar de atender a quem necessita ?

Ainda particular ao contexto do programa, é preciso ponderar que os custos marginais de inclusão de novos participantes é decrescente ( por diluir os custos fixos ) e que a adoção de medidas de controle tem custo em si mesmas. Ou seja, um programa de maior precisão pode, paradoxalmente, apresentar um maior custo por beneficiário (legítimo) que um programa mais inclusivo.

Tudo que disse até aqui nada tem de controverso, uma vez que você aceite a premissa do programa.

Agora vamos analisar os dois extremos. Um programa com suporte ministerial para atender uma única família é ridículo, vide as criticas aos programa do Primeiro Emprego : “Em março de 2004, o sistema eletrônico de acompanhamento dos gastos federais registrava um único beneficiário, um jovem contratado como copeiro por um restaurante de Salvador.”

No entanto, o extremo oposto pode ser interessante: pagar o benefício a todo mundo. Neste cenário, o Recall é 100%. O controle do programa desaparece, substituído apenas pelo controle de identificação e cidadania.

Como o dinheiro não surge do nada, os impostos teriam que ter aumento, possivelmente de forma que aqueles fora da população a ser beneficiada pelo programa passem a pagar imposto adicional no montante do benefício recebido.

Fica evidente que muito dinheiro estaria se movimentando sem efeito algum, pois, para muitos funcionaria assim: eu recebo um benefício e depois tenho que devolver ele todo em imposto. No entanto, o ganho está no uso de um infra-estrutura existente e necessária (de arrecadação de impostos), que de qualquer forma precisa passar por importantes mudanças: Pobres pagam 44% mais impostos do que ricos.

Isto, como diria o Suplicy, nada mais é que renda mínima.

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