AVida

No Atlântico




Em algum lugar do Atlântico perdeu-se o meu anjo exterminador.

Indeciso entre o seguir ou o voltar, afogou-se em reflexão e,

em reflexo, no espelho que queria controlar.




O mundo que herdo não é feito de alegrias ou respostas prontas. Nele cabe a tristeza no olhar do menino e cabe o adulto, que parece lhe dizer, seja na mais terna demonstração de fragilidade, seja na mais violenta explosão de quem se encontra encurralado, “dá-me a mão”.

Mas nele cabe também a leveza de saber que não tenho a resposta, e que ela não existe. Neste novo mundo, me somo ao menino que chora e ao adulto que pede colo. Me somo àqueles, que por mais perdidos que estejam, lhe trazem alguma sabedoria e também aos que, em plena certeza, semeiam os desentendimentos. Navego entre a simplicidade que salva e a que engana, entre a complexidade necessária e a sem sentido.


Neste sereno mundo, neste difícil mundo, neste mundo revolto e complexo, estou pronto a abraçar tudo que tenho e carrego, tudo que encontrarei pela frente, toda a grandeza da sua vasta experiência e da sua bela diversidade, que em tanto a mim superam. Nele, as noites são mais iluminadas e o impensado não assusta tanto.


Neste amplo mundo cabe a não trivial possibilidade do andar de bicicleta sob a chuva.

E isto

basta para me

deixar feliz.

Arte de Ananda Nahu

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A instabilidade

Quando os ritmos da vida sao defindos: nascer, crescer, produzir, reproduzir, morrer

Quando o acaso eh cercado, o risco calculado

Ah sempre o caminho nao seguido, o sopro inesperado e Alanis no radio.

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Amtrak

O trilho segue. Não há escolha. Pelo menos não na direção. Ficar ou seguir, é o que há. Eventualmente, uma decisão, em nosso nome tomada, e, raramente, umas poucas sob nosso controle, mas quando pouco sabemos do destino.

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An American Prayer, Jim Morrison
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Perfect

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Retorno

Pátria Minha

Vinicius de Moraes


A minha pátria é como se não fosse, é íntima
Doçura e vontade de chorar; uma criança dormindo
É minha pátria. Por isso, no exílio
Assistindo dormir meu filho
Choro de saudades de minha pátria.

Se me perguntarem o que é a minha pátria direi:
Não sei. De fato, não sei
Como, por que e quando a minha pátria
Mas sei que a minha pátria é a luz, o sal e a água
Que elaboram e liquefazem a minha mágoa
Em longas lágrimas amargas.

Vontade de beijar os olhos de minha pátria
De niná-la, de passar-lhe a mão pelos cabelos…
Vontade de mudar as cores do vestido (auriverde!) tão feias
De minha pátria, de minha pátria sem sapatos
E sem meias pátria minha
Tão pobrinha!

Porque te amo tanto, pátria minha, eu que não tenho
Pátria, eu semente que nasci do vento
Eu que não vou e não venho, eu que permaneço
Em contato com a dor do tempo, eu elemento
De ligação entre a ação o pensamento
Eu fio invisível no espaço de todo adeus
Eu, o sem Deus!

Tenho-te no entanto em mim como um gemido
De flor; tenho-te como um amor morrido
A quem se jurou; tenho-te como uma fé
Sem dogma; tenho-te em tudo em que não me sinto a jeito
Nesta sala estrangeira com lareira
E sem pé-direito.

Ah, pátria minha, lembra-me uma noite no Maine, Nova Inglaterra
Quando tudo passou a ser infinito e nada terra
E eu vi alfa e beta de Centauro escalarem o monte até o céu
Muitos me surpreenderam parado no campo sem luz
À espera de ver surgir a Cruz do Sul
Que eu sabia, mas amanheceu…

Fonte de mel, bicho triste, pátria minha
Amada, idolatrada, salve, salve!
Que mais doce esperança acorrentada
O não poder dizer-te: aguarda…
Não tardo!

Quero rever-te, pátria minha, e para
Rever-te me esqueci de tudo
Fui cego, estropiado, surdo, mudo
Vi minha humilde morte cara a cara
Rasguei poemas, mulheres, horizontes
Fiquei simples, sem fontes.

Pátria minha… A minha pátria não é florão, nem ostenta
Lábaro não; a minha pátria é desolação
De caminhos, a minha pátria é terra sedenta
E praia branca; a minha pátria é o grande rio secular
Que bebe nuvem, come terra
E urina mar.

Mais do que a mais garrida a minha pátria tem
Uma quentura, um querer bem, um bem
Um libertas quae sera tamem
Que um dia traduzi num exame escrito:
“Liberta que serás também”
E repito!

Ponho no vento o ouvido e escuto a brisa
Que brinca em teus cabelos e te alisa
Pátria minha, e perfuma o teu chão…
Que vontade de adormecer-me
Entre teus doces montes, pátria minha
Atento à fome em tuas entranhas
E ao batuque em teu coração.

Não te direi o nome, pátria minha
Teu nome é pátria amada, é patriazinha
Não rima com mãe gentil
Vives em mim como uma filha, que és
Uma ilha de ternura: a Ilha
Brasil, talvez.

Agora chamarei a amiga cotovia
E pedirei que peça ao rouxinol do dia
Que peça ao sabiá
Para levar-te presto este avigrama:
“Pátria minha, saudades de quem te ama…
Vinicius de Moraes.”


Texto extraído do livro “Vinicius de Moraes – Poesia Completa e Prosa”, Editora Nova Aguilar – Rio de Janeiro, 1998, pág. 383.

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Mensagem para turma de Engenharia

Ana Paula, Batoré, Bello, Boza, Bruno, Carioca, Cássia, Diego, Gago, Gustavo, Helder, Kelly, Lívia das Tattoos, Mara, Marcela, Marcos Gabriel, Mr. Kool, Paulo José, Pavan, Porkinho, Rodriguinho, e Zilza:

Vocês são barulhentos, pertubados, irriquietos mas…

Brilhantes,

amigos, unidos, determinados e felizes !

Não deixem nunca que tentem lhes convencer de que alegria e trabalho não combinam. Você sabem e provam que isto não é verdade.

Neste período longe das aulas, vou guardar com carinho a lembrança da amizade desta turma e a de cada um de vocês.

Tio Pinho

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Pale Blue Dot

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Certa desventura


Um Dia,

os economistas irão notar,

os sociólogos e antropólogos, observar,

filósofos irão debater,

mas estatísticos irão finalmente confirmar:

O falar português inequivocamente aumenta as chances de [alguém] sofrer a eterna desventura de viver à espera de viver ao lado teu.

Posted by Roberto de Pinho in AsCoisas, AVida, Favoritos, Sucesso de Público, Verso e Prosa, 6 comments