Pé no atraso

Depois do futebol, temos um grande apego à burocracia. Adoramos carteiras, cartórios e conselhos profissionais.

O início do texto, lá em cima, pode até ser simpático, evocar o mito do bom selvagem brasileiro, o barnabé qua mata o tempo (e o serviço) na fila para “autenticar” uns documentos. Mas, não creio nisto. Para mim, a verdade está muito mais em meia dúzia de privilegiados que sugam recursos dos país, nos tornam ineficientes e nos devolvem nada.

Aqui, no interior de São Paulo, reconheço uma firma em aproximadamente 3 minutos. Na Bahia, é preciso reservar uma manhã, fazer uma reza forte e contar com o bom humor do PM de plantão, que lhe olha com cara de “cuidado, senão vai ser preso por desacato”. Não que o desenvolvimento (relativo) de SP se deva exclusivamente à eficiência dos seus cartórios*, mas acho um bom termômetro.

Pior que cartórios ineficientes são os conselhos profissionais. Salvo poucas exceções, não nos servem para nada. Tive uma pendenga com um deles, mas minha antipatia é anterior ao imbróglio. A única preocupação destes caça-níqueis é com carimbos e autenticações. Carimbo de um diploma e a autenticação do pagamento da anuidade. Sendo que este segundo, para os conselhos, vale muito mais.

Os conselhos gozam hoje de uma posição legal que é inconcebível para uma democracia: contam com fonte de renda pública, compulsória e não estão seguer sujeitos ao tribunal de contas. Voltamos às monarquias absolutistas… (sobre esta questão, ver texto do Prof. José Pastore). Pior, uma monarquia absolutista escravocrata: o pobre infeliz que resolver se inscrever num deles fica obrigado até a morte a dele fazer parte, e, claro, pagar a tal taxa….

Se ruins em sociedades menos desenvolvidas, os conselhos são piores ainda em economias mais elaboradas. As relações e necessidades são complexas, exigindo muitas vezes visões pouco ortodoxas e, assim como numa floresta, a diversidade garante a sobrevivência. Para ficar num exemplo já batido: quem deve ser o comentarista de economia de um jornal, o jornalista ou o economista ?

E antes que alguem venha me dizer que eles zelam pelo bom exercício da profissão, lembro que projeto do prédio Palace II, aquele que caiu no Rio de Janeiro, foi aprovado pelo CREA, que salvo engano, lavou as mãos, como Pilatos.

* conheço dois cartorios em SP, igualmente eficientes. Conheço alguns na BA, todos eles me proporcionaram longos momentos que dediquei a leitura (talvez devesse agradecer). Desta pequena amostragem, faço meu julgamento.

Posted by Roberto de Pinho

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