Metalinguagem

Existe uma cegueira das coisas que eu sei. Por mais que tentemos, não conseguimos deixar de enxergar aquilo que já sabemos. Isto se apresenta como problema prático quando estou dando aula ou fazendo uma apresentação: como é que a aula ou apresentação é vista por aqueles que não conhecem do assunto ?

Às vezes a questão é trivial e para assunto mais cartesianos, é possível até desenvolver uma certa prática, acredito eu. Mas nem sempre é assim. Nos textos As coisas: olhar outro e As Coisas: Caminhos sou totalmente incapaz de perceber como é a percepção daquele que os lê sem tê-los escrito. Se é que esta percepção é única, e ela não é.

Para explicar um assunto, como loops infinitos, por exemplo, posso recorrer à minha memória do tempo em que não sabia o que era isto, e fazer o caminho reverso neste meu aprendizado, tentando coletar ao longo do caminho quais a informações foram úteis para fazer as conexões que me levaram a compreender o conceito em questão.

Mas para os dois textos citados, não existe um tempo em que eu não os conhecia. Eles surgiram segundo uma lei de formação, de um algoritmo, de um idéia que eu mesmo segui. Não posso olhá-los sem saber que lei é esta. Eu a escolhi, ela esta lá, me salta aos olhos. Por vezes acho que ela é evidente a todos os leitores, por vezes acredito que a sua descoberta é impossível. Os textos foram escritos um após o outro, durante uma aula em que a didática a tornava menos útil que a solitária leitura do hermético assunto num livro. Por pior que fosse.

Até o momento, são apenas três. “olhar outro” foi o primeiro. “As Coisas: Escolhas” foi o segundo e morreu depois de descansar um tempo na gaveta, como ensinava Drummond, e por fim “Caminhos”. Não sei se haverão mais. Saber qual a lógica que os une não implica que eu saiba de onde eles vêm e que possa ir lá buscá-los. Só desconfio que me são sussurrados pelas mesmas coisas que inspiram este blog.

Posted by Roberto de Pinho

3 comments

Acredita que eu estava pensando nisso ontem? Estava pensando que as coisas/idéias/conceitos com as quais entro em contato, abrem buracos na minha cabeça. Em vez de se comportarem como um sólido, que preenchem os espaços vazios, são bombas que detonam mais e mais buracos a serem preenchidos na minha cabeça. Daí o tradicional quanto mais eu “sei”, mas sei que nada sei. Não sei se isso acontece com os outros. Talvez seja a minha forma de ver o mundo. Estou sempre pensando: preciso ler mais sobre isso. E, no último ano, eu estou na posição humilhante de ter lido menos livros que os dedos de uma única mão. Me sinto oprimida com essa idéia. Sei – SEI – que fiz um milhão de coisas, mudanças, decisões, esse ano. Mas, o fato de não ter lido…por deus, é como se eu tivesse estado em coma e envelhecido dez anos em um, pelo tempo que eu perdi.

Mas o que eu quero dizer não é isso. Pensar de onde vieram certas idéias é interessante. Metacognição, como você deve saber, é o sustentáculo da epistemologia. Quando você pensa sobre o que/como você pensa, você atinge dois coelhos com uma única paulada: conhecimento e auto-conhecimento. Isso abre caminhos para mais conhecimento. É o loop infinito que vc mencionou, risos. Existe uma foto de um pintor, esqueci quem, pintando um quadro em que ele pinta o quadro. A foto é uma foto, não uma pintura. É maravilhosa. Sempre que eu tenho uma idéia, ou na época em que escrevia, eu faço o exercício de me perguntar, se não como cheguei àquela idéia, o por quê eu penso assim. Normalmente é muito mais interessante quando você encontra alguém para lhe contestar e lhe pôr confuso.

Eu penso que quanto mais você se conhece, mais você abre caminho pro conhecimento. O não conhecimento de si mesmo cria bloqueios inconscientes a determinados temas. É uma ignorância que não se supera encarando diretamente o assunto, pois você ignora que o desconhece. É necessário que você esteja aberto, e você só estará aberto se tiver desbravado uma boa parte da mata com uma foice (gosto da figura da foice, muito associada à Morte – e pra mim, Morte tem tudo a ver com conhecer).

O que eu quero dizer, que é o que procuro fazer, é que não basta cognição, é preciso meta-cognição. Que é, esta assim, aquilo que nos torna inteligentes. ;o)

(sinto que rodei em círculos, é que na verdade, essa é mais uma coisa que eu saiba de coração, do que uma conclusão. mas sei que saberei argumentar, se dedicar a ela um tempinho para elaboração)

“There are things known and things unknown and inbetween are the doors”

“Não se possui o que não se compreende”. Goethe

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