Discurso de Titulação – Mestrado em Regulação da Indústria de Energia – UNIFACS – 30 de Maio de 2003
Há algum tempo, assisti uma palestra, talvez seja melhor dizer discurso, de um dirigente de uma agência reguladora de um grande país da América do Sul. Como não foram poucos os representantes de agências que participaram da formação da nossa turma, posso ficar tranqüilo que a identidade do palestrante será preservada. Nesta palestra, dirigida aos funcionários da agência, foi traçado um perfil do regulador. Era tão fantástica a criatura descrita, que eu não seria capaz de reproduzir nem um quinto do tal discurso.
Estes seres perfeitos, capazes de habitar apenas no Olimpo, ou quem sabe, Brasília, deveriam, simultaneamente preocupar-se com os aspectos técnicos, econômicos, legais, sociais, ambientais, financeiros e culturais dos problemas enfrentados. Sempre agradando a gregos e troianos, consumidores e concessionários. Isto para não falar na conduta pessoal, pois eles deveriam ser ausentes de vícios, incapazes de cometer erros.
Tudo seria perfeito naquela tarde de sol no Olimpo, se não estivessem estes semi-deuses ocupados da tarefa de regular a vida de todos nós, pobres mortais. Me pareceu muito errado e estranho que estes seres perfeitos fossem capazes de regular mercados e relações sociais que são muitas vezes imperfeitas, quase sempre desiguais e algumas vezes, mas até do que deveriam ser, injustas. Relações que são antes de tudo Mutáveis.
A confirmação desta minha suspeita ocorreu algum tempo depois, quando já estava numa aula do Mestrado em Regulação da Indústria de Energia. Nesta aula, um dos moradores do Olimpo, a convite de um de nossos professores, falava de o quanto seria oportuno que empresas de todo o país, passassem a apresentar suas faturas de forma padronizada, provavelmente em preto e branco, cheia de códigos. Assim, seria mais fácil, para ele e seus técnicos analisar as mesmas, quando necessário. Estamos falando em interferir na rotina de milhões de consumidores, de impedir inovações, como, por exemplo, colocar uma estória em quadrinho educativa, ou usar cores que agradem aquela região, para facilitar a vida de meia dúzia de técnicos. Se este pensamento se aplica a um detalhe como este, o que dizer de outras questões ?
Mas hoje, felizmente, estamos aqui para a titulação não de meia dúzia de técnicos, mas de 12 seres humanos, logo seremos 14, completos com suas qualidades e defeitos. E para ficar nas qualidades, já que tivemos mais de 2 anos para conhecer os defeitos uns dos outros, falo na que é para mim e como já foi dito aqui, a maior qualidade desta turma e deste curso, desde a sua concepção, que é a sua diversidade.
Se podemos casar megabyte com megawatt, queda de tensão com alínea segunda, petróleo e seqüestro de carbono, é porque somos um grupo composto de arquiteto, economistas, muitos engenheiros eletricistas, analista de sistemas, químicos industriais, engenheiro químico e até engenheiro naval. Certa vez, conversando com Dr. Afonso Henriques, engenheiro eletricista, doutor em engenharia elétrica, na época diretor da ANEEL, disse-lhe que havia muitos engenheiros da diretoria da agência. Para o meu espanto, até ele concordou.
E foi através da correlação de forças desta turma toda que formamos um time capaz, cada um a seu tempo, de observar cada um dos aspectos necessários à hercúlea tarefa da regulação. E olhe que os trabalhos foram mais que os apenas 12 do Hércules original. Falamos desde protocolo de Kyoto até termodinâmica e achamos algo ou até muita coisa no meio do caminho.
Trabalhos estes pedidos por professores tão diversos como nós mesmos. Temos desde a seriedade amiga de Paulo Rocha e suas temíveis equações de balanço de poço até a gargalhada e o humor britânico de Osvaldo Soliano.
Tivemos também relutantes moradores do Olimpo, como é o caso do nosso Tanure, que sempre que pode volta a esta cidade, para renovar as idéias, as suas, mas principalmente, as nossas. Professores como a professora Olívia, que com todo carinho buscou nivelar o conhecimento de uma turma de origem tão diversa.
Ou ainda, o nosso professor de direito, Honorato, advogado, que ao contrário de todas as nossas expectativas, e como vocês puderam ver, era um dos mais brincalhões, e ouso dizer, dos mais gaiatos, e, também por isto, um dos mais queridos.
E deste caldeirão, que começou como turma, teve que virar time, eis que surge uma equipe, que continua unida, sob este teto. Isto é possível, pela visão dos polivalentes James e André, e hoje orquestrado pelo onipresente Ricardo e sua equipe : Andréia, Carol, Roberta, Letícia. Hoje, mais da metade dos que estão recebendo seus títulos trabalham na Universidade Salvador, pesquisando e ensinando, sabendo utilizar as habilidades mútuas e a trabalhar juntos, dando sentido e uso ao termo colegas.
Colegas que junto comigo recebem o diploma hoje, colegas como Normando e Ana Cristina que logo estarão recebendo os seus, e colegas como o líder de nossa turma, Jorge Ramalho, que por um motivo ou outro não terminaram o mestrado, mas que espero ver de volta nesta casa. A eles, obrigado pela companhia neste processo, e todos vocês, muito obrigado pela atenção.
Roberto Pinho, Mestre em Regulação da Indústria de Energia.