É certo que o impacto no cultivo de alimentos e na produção de energia, além de uma maior necessidade de obras civis e de investimentos de saúde para lidar com os efeitos nefastos do aquecimento global podem ser importantes, mas, é preciso lembrar que sem aquecimento legal, sem Kyoto vigente, há fome no mundo e a malária mata mais de 1 milhão de pessoas todos os anos, apesar de ser uma doença tratável.
Assim como existe o tratamento para a malária, existem no mundo os recursos necessários para transformá-lo radicalmente. E é neste ponto que o aquecimento global pode ter o seu maior impacto. Uma vez que não há visto de entrada para furacões, como não se podem construir muros para barrar as altas temperaturas, ele não pode ser ignorado pelos países desenvolvidos. Assim podemos esperar que uma imensa quantidade de recursos seja direcionada para a questão.
Imagino que primeiro modelo de organização do mundo a ser considerado é o de uma economia de guerra, com o CO2 no papel de um Hitler invisível. Não tivesse mudado um pouco postura, Bush seria o candidato natural a ser colocado atrás das linhas inimigas.
Especulo que assim como as Guerras Mundiais anteriores, está também será uma guerra a ser travada no hemisfério norte (i.e. Países OCDE), tendo lá seus campos de batalha, e relegando aos demais países um papel periférico. Neste cenário, o aquecimento global seria a arma para frear o crescimento de Índia e China e arrasar com o oriente médio, com pesadas restrições ao uso petróleo. O Brasil poderia ser beneficiado por uma substituição do petróleo pelo etanol, neste cenário e tomar o lugar da Arábia Saudita ou, do Iraque, o que não é necessariamente bom, como bem sabem os iraquianos.
No entanto, ainda que a população mundial atinja os níveis de mobilização necessários para suportar as restrições a serem impostas por um corte radical na sua dieta de carbono, talvez este não seja o inimigo correto.
No TED Talks, um dos palestrantes argumenta que tentar simplesmente reduzir os níveis de CO2 da atmosfera é a mesma coisa que um médico dizer a alguém que levou um soco no nariz: “não leve socos no nariz”. Médicos trabalham com prevenção também, mas boa parte da sua prática envolve a eliminação de sintomas e a correção de problemas.
É neste sentido que se propõe, por exemplo, a colocação de painéis no espaço capazes de refletir parte da energia recebida do sol. É também com este espírito que o bilionário inglês Richard Branson está oferecendo um prêmio de US$25 Milhões para quem desenvolver formas alternativas de captura de CO2 da atmosfera.
Aqui estamos diante de um novo projeto Apollo. Se outros indivíduos ou mesmo governos trabalharem neste sentido, poderemos ter um nova corrida espacial. Aqui vejo pouco espaço para mudanças na geopolítica global. Afora benefícios indiretos que o investimento massivo em ciência traz para a população como um todo, os avanços tecnológicos deste tipo de iniciativa terão como objeto direto a manutenção do american way of life, lá pelas bandas deles, funcionando da mesma forma que o projeto Apollo, que servia de vitrine e de justificativa para o desenvolvimento de tecnologias, que, em última instância, seriam usadas nos embates militares e políticos da guerra fria.
Por fim, poderemos ver nascer uma nova era de aquarius, com os povos dos países desenvolvidos enxergando que o seu modelo de desenvolvimento não se sustenta e que a vida na terra só será possível quando todo ser humano for tratado como igual e que as benesses do desenvolvimento chegarem a todos. Mas isto é apenas conversa para cooptar os ecologistas mais ingênuos.
Em recente visita a uma livraria deste lado do Atlantico vi no balcao do caixa um display de um livro chamado “How to calculate your carbon footprint” ou algo assim. Step by step…
Sinceramente não vejo muito por que se preocupar com o aquecimento global. O humano é super criativo, à mesma medida em que os problemas crescem e o teórico “apocalipse” se aproxima, as idéias e saídas vão se multiplicando. Somos muito férteis mentalmente na hora da necessidade, ainda mais com algum estímulo (25 milhões de estímulos agora, na verdade).
Sobre “tecnologia e progresso para todos”, eu fico com Darwin. Os fracos que sucumbam.
Sobre a corrida espacial, fazendo uma extrapolação gráfica mental, a cena visualizada por mim é de que se a casa deu praga de cupim, SE MUDA. A estação espacial internacional é um LOFT bem legal. Poderíamos ter verdadeiros condomínios e villages espaciais. Com um apê daqueles, quem precisa tentar habitar Marte?