Quando o morno não resolve

Tudo que um autor de livros de auto-ajuda não quer que você saiba é a regra de ouro das frases de efeito:

nenhuma regra funciona o tempo todo, nem esta

Pra quem gosta de lógica, por traz disto está o teorema da incompletude de Gödel, resumidamente: Se um sistema é consistente, é incompleto, se é completo, é inconsistente.

No mundo das citações, gosto quando encontro belos exemplos de maravilhosas frases que nos levam a direções opostas. Enquanto Nietzsche me fornece “tu, e só tu, podes construir as pontes pelas quais deves passar”, outros autores atacam com variações de “só um idiota aprende pela experiência, os espertos aprendem pelos erros dos outros”. A beleza está no contexto, na sua identificação e na aplicação, nenhuma regra funciona o tempo todo.

Nem mesmo Buda escapa da bela crueldade de Gödel: A sabedoria está no caminho do meio. Não quero café morno e cerveja menos ainda. O radicalismo, o full commitment que os norte americanos tanto gostam pode ser a unica opção.

Na questão das drogas no Brasil, um torto caminho do meio nos coloca no pior dos mundos: A Lei 7134 aprovada pelo Senado em 2004, determina o fim da pena de prisão para usuários e dependentes de drogas. Ou seja, liberamos a demanda e tentamos lutar contra a oferta. Como disse o Presidente Jed Bartlet: Estamos financiando ambos os lados da guerra.

Aqui, são soluções melhores tanto o chá quente quanto o chá gelado. Se você acredita em Prêmios Nobel em Economia, deve defender a legalização das drogas, confiando nos seus cálculos de que o tratamento dos abusos e danos à saúde serão muito mais baratos que os gastos correntes em repressão, além de facilitar o acesso ao usuário e disciplinar o comércio. Se no entanto, sua praia é a proibição, que ela valha para todos e que seja cruel com o consumidor, estancando assim a fonte de recursos para o comércio ilegal.

Uma discussão da questão do ponto de vista econômico pode ser encontrada no livro Freakonomics: o Lado Oculto e Inesperado de Tudo que nos Afeta (STEVEN D. LEVITT e STEPHEN J. DUBNER ), atualmente na minha fila de livros a espera de serem lidos.

Posted by Roberto de Pinho

2 comments

Um conhecido meu postou sobre “missão” da empresa. Segundo ele (e concordo) a missão de todas as empresas é única: Mais dinheiro, mais lucro. O resto é firula romântica pra enrolar os funcionários. Pra mim, a Administração Pública deveria seguir o mesmo preceito. Afinal, o país é ou não é uma grande empresa? A missão é fazer o país crescer, diminuindo as despesas e aumentando a receita. Não adianta tentar proteger os “coitadinhos” usuários de drogas, pois ELES MESMOS não querem ser protegidos. Ninguém é obrigado a usar cocaína, fazem porque querem. Claro, INFORMAÇÃO é essencial, mas dizer que vai aumentar a repressão de drogas pra proteger a saúde da população é piada. Pensar na relação custo x benefífio pra mim sempre é a maneira mais fácil de se tomar uma decisão. Então que venha o Nobel da Economia, o chá quente e a cerveja gelada.

Pinho,

Para esquentar os tamborins, veja a palestra do Steven Levitt no TedTalk.
É justamente a análise econômica dos vendedores de drogas de chigago.

http://www.ted.com/tedtalks/index.cfm?flashEnabled=1

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